Siblings
Diz a psicóloga que, na realidade, só este ano comecei a fazer-te o luto, Anita.
Que, com os problemas todos desde 2020, o meu corpo, a minha mente e o meu coração andaram, até há poucos meses, a viver em modo de fuga, de mínimos, de confusão.
E lá está, a saudade está diferente.
A noção de viver sem ti, está diferente.
Faltas-me mais, como se isso fosse possível.
Custa-me mais, olhar para um mundo sem ti.
Vou percebendo o quanto tudo está diferente à minha volta.
Os pais, os miúdos, os sítios. A roupa, a comida.
Não me gabando, sinto-me mais humana, mais capaz de olhar, olhos nos olhos, de todos os que me rodeiam.
De dizer (ainda mais, dirias tu) o que acho que quem merece/precisa/amo deve ouvir, sob pena de não haver amanhã para dizer. Para partilhar opinião.
Continuas a viver em mim.
Continuas a viver em nós.
Continuo a não me conseguir recordar da tua voz - ra'is parte teres-te ido embora antes do pessoal desatar a usar o WhatsApp.
Volta e meia sonho contigo e já não acordo aflita e confusa.
No outro dia, voltei a sonhar que estávamos numa festa, numa mesa de almoço.
Se isto é fazer o luto, venha o caminho. O resto dele, sem ti.