O Poeta Original
Sim, sou menina das Letras e das palavras, mas nunca liguei muito a poesia. Culpem aquela professora preconceituosa, que no fim, teve que engolir as palavrinhas (yeah, bitch, I won in your on game!).
Voltando ao tema, não fui, nem sou de me perder a ler poemas, romantismos exagerados, rimas e versos e métricas. Mas como qualquer humano, tenho as minhas excepções à regra: Ary dos Santos, Sophia de Mello Breyner e letras escritas pelo Freddie (sim, no meu "livro" o Senhor também é poeta).
Assim, hoje, é o dia em que o clamor da voz de trovão com o coração quente acorda mais forte em mim. Ouço o Ary em versos perdidos na minha cabeça.
Deixo-vos com "O Poema Original":
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
Ary dos Santos, in 'Resumo'
Sempre, Ary.