Dos rótulos
Compreendo que a sociedade me colou um rótulo quando nasci.
Não o pedi. Penso muitas, muitas vezes no quanto deveria ter nascido antes ou depois de 09 de setembro, apenas e só para não ter uma deficiência. Esta.
O oxigénio não chegou ao cérebro; mas eu lutei. Obedeci, ultrapassei, superei.
Não que sirva de muito aos quase 40 anos com todas as dificuldades, doenças, maleitas extra.
Mas eu SÓ sei lutar - até um dia, penso casa vez mais.
Peço ombros emprestados para descer escadas; agradeço cadeiras no metro e prioridades nas filas - raras que são, mas agradeço.
Agora, pena? Caridade? Tacanhez? NUNCA.
Posso não conseguir fazer tudo, mas não sou incapaz. Posso sofrer de dores e dias difíceis e cérebro que pára e não me deixa reagir ou mexer; mas tenho inteligência e presença de espírito.
E Humanidade.
Por isso, tu, que achas que sabes o que é uma deficiência: grita, apresenta-te ao mundo como dono da verdade, feito de oportunidades e privilégios; mas NUNCA me tentes atropelar.
Eu sei do que é feito o Mundo, não conto com nada, cada vez menos - mas tenho fibra para viver nele - mesmo com pré-conceitos, más palavras e "coitadinhice".
Faço-te uma crítica construtiva: come a sopa que deixaste no fundo do prato, lê o livro que aldrabaste e do qual só sabes o resumo (com o rei na barriga); deixa de mentir a ti mesmo e olha ao espelho para veres que és muito menos pessoa do que bradas aos 7 ventos.
Faz o teu caminho, ressoando a maldade que deixas como um rastro atrás de ti, e humilhação que sonhas ver nos outros para a tua elevação.
Não cruzes o meu caminho, assim poderás continuar a ser o Rei do teu castelo, sem afetar ou dificultar o meu caminho.