Dicotomias Lisboetas
No Metro:, num destes dias de chuva diluviana...
Uma Senhora (seleta) de sobretudo grosso, comprido.... eeeeee?
Sandálias de verão às tiras, perfuradas.
(E ainda acho eu que sou uma pessoa complexa...)
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No Metro:, num destes dias de chuva diluviana...
Uma Senhora (seleta) de sobretudo grosso, comprido.... eeeeee?
Sandálias de verão às tiras, perfuradas.
(E ainda acho eu que sou uma pessoa complexa...)
Quando o assunto é paixonetas, sou uma nostálgica.
Demoro a arrumar o que não aconteceu (por bem) na sua caixinha e a deixar ir. - Mesmo estando casada, feliz e muito satisfeita com quem me "calhou na rifa". - vai-se a ver e sou uma romântica!
Se a paixoneta chegou a paixão... ui! Caraças... sofria, sofria, analisava, analisava.
Faz agora uns 20 anos conheci a pessoa mais parecida com o m-R (em termos de Homem, completo) mas na altura tinha 18 anos, não percebia nada de relações e, graças à minha deficiência morria de vergonha de pensar em relações e não me achava digna de nada desse género.
Sei-o, por várias pessoas, que ele foi vivendo os 4 anos que partilhámos na faculdade apaixonado ou interessado em mim.
Eu só tive coragem para admitir que o via dessa forma mais para o final.
E vivemos meses e situações bem fofas, bem dignas de rom-com. Tivemos momentos em que ele me fez sentir uma princesa, em que falamos num futuro... Mas, no dia em que ele tentou dar "o passo", eu fugi.
E quando eu "dei o passo", ele recusou - por estar magoado comigo - disseram-me um dia.
Vai daí, na minha nostalgia, sempre fui pensando, ao longo destes anos todos: "the one that got away".
Ontem... ontem, cruzei-me com o perfil dele numa rede social - naquela parte do "talvez conheças pessoa X".
Primeiro sorri, depois pensei "espero que estejas bem na tua vida e na tua saúde" e depois ri-me.
Ri-me a pensar o quão o m-R é ainda tão mais do que o imaginado, o possivelmente sonhado - ri-me a pensar que esperar pelo dia em que me cruzei com o m-R valeu os altos e baixos até então.
K. - espero do fundo do coração que estejas a viver a vida que a pessoa carinhosa e pura que me eras merece.
Que a tua capacidade de ver mais, de sorrir sempre, de ter uma palavra cavalheira, de passar pelos dias com uma postura e diplomacia incríveis - para a idade que tínhamos; continue em ti.
Obrigada por, mesmo nos termos desencontrado, me teres feito sentir com valor, como menina-Mulher.
Aquela proposta de viagem/visita veio com água no bico - senti-o nos ossos.
Passei as semanas até àquele dia a perceber o quanto nada encaixava...
Consegui gerir o ir... e a partir daí - fiquei nas mãos deles - até muito depois de voltar.
Pouco me serviu todas as conversas, confissões, abertura sobre a minha saúde mental e vida, ao longo de meses.
Estava marcada - sabia-o, mas não imaginava a dimensão.
Não até tudo ter dado para o torto, para o errado e para o inaceitável.
Burra, que não há outro termo, ainda tentei ser a diplomática, a madura, a igualitária da situação.
Fui foi o mexilhão.
O engraçado é que - fora o asco que me dá pensar no depois - adorei os locais que fui visitar. Os passeios, os recantos, os pequenos-almoços sozinha e as caminhadas a descobrir os caminhos para não me perder.
A comida, o Sol, os monumentos, os 15 kms a pé todos os dias.
As igrejas inesperadas, a Torre de Babel de línguas por todo o lado; os ambientes de filme que mudavam a cada quarteirão.
Numa semana, em 3 cidades, numa única viagem vivi o melhor e o pior de mim - e dos outros.
Ao ponto de ter decidido que sim, vou voltar, sem estar nas mãos de ninguém e vou mudar a História - só para o melhor que depender de mim.
Morrer-se-nos uma irmã é um dor impossível de explicar. É A falta para a vida. Mas ninguém fala do quão solitário é.
"Toda a gente" pensa na dor dos pais. Na dor do viúvo (gargalhada interior). Na falta que a pessoa vai fazer aos filhos.
Praticamente ninguém me contactou e perguntou por mim, os poucos que o fizeram (excetuando os meus verdadeiros) fizeram-no numa perspetiva perversa de ver o que acontece quando um transplante corre mal - mas não iam estar a chatear os meus pais para isso - sim, também ouvi isso, por outras palavras.
Sabem o que ouvi uma vez, ao fim de 6 meses de luto?
Que estava a exagerar na falta, na saudade. Que era suposto começar a habituar-me e seguir em frente.
Sabem quantas vezes nos últimos 3 anos pensei "qual em frente!?"
Muitos, muito dias.
Com a morte da minha irmã: mãe, mulher, trabalhadora, com 40 anos de vida... percebi a pouca falta, a pouca diferença que fazia ao mundo.
Porque se o Mundo continua sem ela, que atingiu (socialmente) mais do que eu, eu também não faria falta...
O luto fraternal é desconsiderado.
Mesmo eu só tendo conhecido a vida com ela. Mesmo eu só sendo eu por ela ser a minha irmã.
Os meus pais educaram-me para (prometeram-me) nós sermos as companheiras uma da outra. Que tudo passa, mas os laços fraternais da partilha de uma vida que nasce das mesmas pessoas, na mesma casa, com a mesma comida e as mesmas escolas, ninguém quebra.
E a doença veio e roubou a minha irmã de mim.
Tirou-me os meus pais, que não são os mesmos. Que não olham para mim com os mesmos olhos.
Mostrou-me o quanto um casamento pode esfumar-se ao vislumbre de chatices de saúde e ser uma construção social, para o Facebook ver.
Desfez décadas de construção de uma família, que agora parece longínqua e falsa de acreditar.
Em agosto de 2020 fui roubada da pessoa que mais adorava no mundo - e tive a sorte de lho poder dizer nos olhos, diretamente, antes dela entrar em coma.
E desde aí poucos foram os que perceberam que mais do que uma morte, vivo com um vazio, uma falta, um nunca mais.
Porque mãe deu à luz, porque filhos só têm aquela mãe... mas eu "só" perdi uma irmã.
A morte dela foi o passo em frente, em direção ao poço. Sei-o hoje. Na altura não o vi, só vi a dor.
Ainda na semana passada, ao almoço, ouvi 3 colegas conversar - curiosamente todos homens - sobre terem mais filhos. Todos apontam a atual situação economico-financeira para não o pedirem às companheiras... TODOS vieram com a história de que tinham pena pois estavam a privar @ filh@ único de ter um "amigo para sempre", "alguém para partilhar a vida"...
Sabe Deus como não virei a mesa, como não berrei "deixem-se de egoísmos, porque se não controlam a morte, mas vale controlarem a vida"; sabe Deus como não chorei desalmadamente a ouvir as palavras que os meus pais me prometeram a vida toda.
A promessa durou 34 anos. Agora durará o resto de uma vida inteira de vazio.
Mas ninguém pergunta nada aos irmãos, não é?
Só vos pode dizer: Obrigada! Obrigada!
Obrigada pela forma com alguns ainda se lembram de mim, como tiveram saudades de mim, do meu feitio, das minhas histórias.
Só posso agradecer o carinho, o interesse, as palavras bonitas; num vida que, não escondo é muito mais nublada do que antes.
Cada comentário me fez sorrir, cada comentário me fez pensar "que bom é não estar presa no meu mundinho".
Conforme já puderam perceber, a vida está mesmo diferente deste lado, faz-vos sentido ler sobre isso?
Olho muito para este regresso como a hipótese de verbalizar coisas que, nos últimos mais de 2 anos, muitas vezes só contei às paredes... mas, como disse na semana passada à Pandora, não sei se as minhas palavras ainda são muito compreensíveis...