Sobre o Amor incondicional
Fui educada a amar a minha irmã acima de todos.
Acima dos meus pais mesmo.
Era suposto sermos as companheiras da e para a vida. Sobreviver juntas à velhice e à falta dos nossos pais.
E sim, amo a minha irmã acima de todos - apenas igualada pelo amor ao meu sobrinho-afilhado, ou não seja ele carne e sangue dela, a sua primeira continuação e extensão; a quem me didico desde o primeiro momento em que o vi, de forma igual.
Tive a honra de, durante 34 anos ter podido seguir exemplos, evitar erros, e olhar para o caminho dela, mesmo que não o tenha repetido, mas o tenha tentado alcançar, à minha maneira.
Em todo este tempo percebi: o amor fraternal, o amor incondicional é down played.
Para quem não nos conhecia bem, ou só conhecia uma de nós, eu sou "só a irmã".
Eu sou nova, eu tenho vida para viver, eu vou conseguir erguer-me, a dor vai diminuir.
Acredito que assim possa vir a ser. Mas ela é o meu primeiro Amor incondicional.
Quando me digo vazia, incompleta e confusa, é porque sei que o estou. E, vou estar, em cada dia que me reste, mesmo que menos, com o tempo.
Não sou mãe, nem pai, nem filha, nem marido. Sou a irmã, mais nova.
Ter um irmão é isso. É sermos mais, porque somos noutra pessoa, porque vivemos também neles.
Faz hoje 2 meses que tive que me despedir da minha irmã.
Sem poder ter dado um último abraço, um último beijinho repenicado ou uma festinha na mão.
Faz hoje 2 meses que passei a ser só eu, por mim, e não foi isso que a minha educação "me prometeu".
Sei para onde ela foi, sei que está segura e bem. Que o sofrimento enorme dos últimos meses terminou e que agora ela olha por nós, tal qual a estrela que é - como o explicamos à minha sobrinha.
E a verdade é que, em muitas noites, consigo ver a primeira estrela da noite, a mais brilhante, e sorrir-lhe, com saudades.
Tenho levado o meu luto como uma montanha-russa. Em dias quase como se estivesse só a passar pelo dia. Há dias em que me lembro dela porque vejo as comidas que ela gostava, ou porque, de repente me lembro do sorriso dela.
E o sentimento do "nunca mais" é o que custa, é o que doi, é o que dilacera.
Não tenho procurado temas ou músicas tristes. Porque a tristeza que sinto é "só" saudade, e essa já "chega".
Mas, pelas internets, o Youtube recomendou-me um documentário - é o que faço no Youtube, vejo documentários sobre tudo e sobre nada.
Este é sobre tudo. Sobre o amor incondicional e a sensação de roubo e de solidão.
Cada dia, é um dia. Hoje foi mais um para marcar no calendário.