Update da mana #4
Mais de um ano depois regresso ao tema da luta e saúde da minha irmã, num dos posts mais difíceis de escrever.
Conforme partilhei há um ano, a luta da minha irmã, pós-transplante deixou de ser um tema no blogue a pedido da minha mãe e para preservar os meus sobrinhos, ambos menores. Mas a nossa vida voltou a dar uma má volta e, depois de muito pensar, decidi atualizar-vos, especialmente aos que ainda perguntam e anseiam por um "final feliz", como nos filmes.
O último ano não foi fácil. A minha irmã ultrapassou com sucesso o "fazer" o transplante, mas ninguém a preparou ou a nós para o "depois": mais do que uma vida de medicação, uma vida a começar do zero em termos de imunidade e saúde, que nunca mais nos puderam garantir.
E no caso dela, correu mal.
Em maio de 2019 teve um abcesso cerebral que a deixou em coma e com um prognóstico muito reservado. Lutou e regressou mas com muitas, muitas sequelas. Enquanto família, e principalmente os meus pais, que são os maiores heróis do mundo, entregamo-nos a ela, a encontrar formas de lhe devolver qualidade de vida (medicação, exames, fisioterapia, terapia respiratória, tudo, tudo o que os meus pais oiçam falar e possam imaginar, eles encontram e fazem com ela).
Uns meses depois, nova chapada da realidade: um novo abcesso no cérebro, apesar de todos os cuidados e medicações.
Em dezembro: uma infeção pulmonar que a deixou ligada a oxigénio a partir daí, 24 horas por dia.
Aí percebemos que o "futuro está contado", mas por ela, tudo e continuamos a lutar por qualidade de vida e pelo bem-estar dela.
Mas nada parecia resultar. A cada visita ao Porto (para onde "corri" logo após o levantamento das restrições da pandemia) a via mais cansada, mas aflita por respirar, mas a cumprir tudo o que foi indicado pelos médicos.
Até há 3 semanas.
Há 3 semanas um exame de rotina para perceber porque a infeção pulmonar não passava resultou em tê-la nos cuidados intensivos.
É lá, no IPO, a 300 kms, que ela está. Ventilada e com tudo mais que uns pulmões e coração enfraquecidos pedem.
É lá que o meu coração e o dos meus pais e o dos meus sobrinhos está e bate, todos os dias.
Os médicos não nos dão respostas, quanto mais esperanças. E nós, família, vivemos entre o acreditar que ela luta muito e regressa sempre, e a noção que este ano foi muito pesado para o corpo dela.
Escrevo este texto porque tenho vivido com esta dor e os muitos medos nestes dias todos. Cheia de receio de materializar o que se passa, cheia de medo do telefone e do amanhã.
Escrevo de lágrimas nos olhos.
Mas escrevo porque acredito que assim não choro sozinha, tanto nos dias de pouca esperança, como nos dias negros.