10 anos depois, o que é ter uma licenciatura?
10 anos depois, o que é ter uma licenciatura?
Faz hoje 10 anos... era uma pequena menina com uma licenciatura (Pré-Bolonha, só de escrever isto sinto-me ainda mais velha).
E então?, perguntam-se vocês? É habitual, é corriqueiro.
Poderá ser, mas, lá em casa fui a 1ª (o orgulho do meu avô!), e única, até agora. Na família direta fui a 2ª no total.
Entrei na minha primeira opção, com média para "dar e para vender", mas cedo descobri que o tema fulcral da minha licenciatura não me apaixonava. Nada de pânicos! Olhei para as especializações, recalibrei o foco, e, 10 anos depois (com mais estudos pelo meio), cá estou eu, com 7 anos de experiência na área - coisa mais ou menos rara, eu sei.
Há 10 anos era uma menina dura, lutadora, determinada e muito, muito sonhadora.
Ouvir negas de carreira só porque sou mulher, só porque sou deficiente, só porque estava no Porto foi difícil. Endureceu-me a carapaça.
Os 3 primeiros anos passados entre estágios, experiências, "chulanços" e trabalhinhos fora da área deixaram mossa, mas também ensinaram muita coisa.
10 anos depois, dei uma volta à vida vida, que, sejamos sinceros, cheguei a ver como muito longínqua.
Nestes 10 anos fui a menina a quem foram feitas promessas, para no momento seguinte ser descartada e esquecida. Fui a menina que chegou a contemplar o suicídio como resposta às negas e à inadaptação ao mercado de trabalho. Fui a menina que tem "dedo podre" para as escolhas. Fui a menina que, mesmo trabalhando em Comunicação, percebeu que é introvertida ao ponto do mal-estar, ao ponto da invisibilidade.
Pelo meio destes 10 anos juntou-se a epilepsia - que dificulta o raciocínio e a fala.
Pelo meio, juntou-se um mestrado, feito de crescimento pessoal, de luta, de muita vontade e de uma enorme fascinação.
10 anos depois, percebo que, habitualmente, estou uns passos à frente. Vejo e tento "a novidade", o avançar na carreira antes, ainda o assunto não está cimentado. Normalmente, sou a profissional que implementa para ver crescer, que aprende para formar, que acena positivamente, aos passos que se lhe seguem.
Há 10 anos ter uma licenciatura, pelo menos, na minha família, era um enorme motivo de orgulho, era um marco de vida, era uma luta daquelas que nos fazem gigantes. (Já o mestrado, tão mais exigente, passou ao lado de todos)
E eu? Faço o que posso com tudo o que de lá trouxe: conhecimento, conhecidos, hábitos, truques, manias, memórias...
10 anos depois é algo visto (exteriormente) como apenas mais um passo, algo regular, algo comum e banal. Giro de se fazer, na onda do todos fazem.
Mas aqui entre nós, e desculpem-me a falsa modéstia, 10 anos depois, com todas as dificuldades que entretanto se juntaram ao meu percurso, as escolhas que deixam marcas, o cansaço associado da idade... o meu peito ainda se enche de orgulho, tal como se encheu, neste último dia em que fiz aqueles corredores, com um canudo no bolso e a mente repleta de sonhos.