Padrões
Ando a remoer este texto há semanas, desde as férias. Poderia ser poética e dizer que o deixei maturar, envelhecer, qual venho vinho do Porto, mas, na verdade, nem eu sei se isso o torna melhor (com a idade), mais claro; ou se, pelo contrário, vai parecer-vos tão confuso quanto a minha mente o está.
Há muito pela blogosfera fora, quem escolha uma palavra do mês e a trabalhe, a escreva, a inclua nos seus dias - e o que eu gosto desses posts... :)
No meu caso, junho trouxe-me uma palavra, sem eu por ela dar conta. Vejo-a agora, quando olho por cima do ombro (meia em medo, meia em contemplação): padrões.
Junho foi-se-me feito de padrões, de reconhecer padrões, de viver padrões, de os (pres)sentir. Trouxe-me ainda a capacidade, a bem ou a mal, com bem-estar ou dor no estômago, de, ao passar a, conscientemente, conhece-los tomar uma decisão: aceita-los (essa parte é que não é tão fácil...) e bater com o punho na mesa, para os alterar (quando não são positivos).
Ao nível de saúde, os meus piores medos, os meus padrões genéticos, ainda não se confirmaram. Isso não impede que ande com exames e análises na carteira, à espera dos sábados da minha vida, para os ir fazer, enquanto faço figas, para não receber más notícias. Acabei por tomar uma decisão, que implica muito commitement, e que normalmente acontece quando a minha vida começa a tremer, a pedir mudança, qual grito de Aleluia: voltar ao ginásio. Os 5 kgs a mais, o nº acima de roupa (que não se resolvem só com a simpática e badalada reeducação alimentar), o parecer uma velinha de 60 anos, no autocarro, fazem-me odiar o meu corpo neste momento, revoltar-me contra a decadência que não consigo parar sozinha, só com boa vontade. E para grandes males, grandes remédios: 'bora lá enfrentar locais cheios de gente gira e sorridente, se é esse o caminho para resolver alguma coisa.
Ao nível familiar, duas semanas de regresso ao Porto acordaram todos os padrões de passivo-agressivos. Os de "sempre". Os insultos, o controlo, a (quase) violência se as ordens não são obedecidas. A diferença desta vez? Falei, quando colocada em cheque, disse o que sinto, como vejo as coisas e mantive-me forte (tanto quanto consegui). Pena é que a vida não seja um filme de Hollywood, onde o que é dito do coração é automaticamente aceite e bem-vindo. Férias marcadas por gritos, humilhação e diminuição. Tudo o que uma pessoa quer, certo? How very féxon of me...
Ao nível pessoal? Tive enormes breakthroughs.
Dei graças, todos os dias, pelos melhores "padrões" que tenho: o m-R e o Snape. As duas pessoas, no mundo, que me conhecem de dentro para fora tal como o sou agora, o lado lunar e o lado solar e, não só me amam assim (coitados...), como aceitam lidar comigo. Não sou a pessoa mais feliz e satisfeita do mundo, que não o sou. Mas depois, perto ou longe, uma luz acende-se dentro de mim, e sei que eles são os meus companheiros de vida. Presentes comigo, no padrão da mudança. E que me mostram que, caraças, já passei por tanta merda nos últimos anos... sou osso duro de roer, não parto "assim". E vou sobrevivendo, sempre.
Mas, como nem tudo são rosas (e muito menos quando eu estou de férias, o que já em si é um padrão...), tive o privilégio (e não o digo ironicamente) de levar uma chapada de algumas pessoas-padrão. Padrão que se repete, independentemente das pessoas, há quase há uma década. Padrão pelo qual perdi horas, padrão que me "cegou", padrão que alimentei.
O homem é um animal de hábitos, que só "pioram" quando são permitidos e apoiados.
Foi-me mostrado que, em busca e troca de amor, enganada, andei a dar de mim como se algum dia fosse ser retribuída. Apesar de, ao longo de todos estes anos ter tido avisos, ter tido pessoas de "fora" que me foram tentando ajudar a ver a realidade. A verdade é que me deixei ser usada, na esperança que me amassem como eu amo. E o pior? Fui arranjando desculpas para tal: para as minhas atitudes, para as dos outros, mesmo quando o meu próprio subconsciente me dizia: "olha que isto é tal e qual como quando...". O irónico de amar tanto outras pessoas?! É que eu nem acredito no amor incondicional, acho que só a premissa é a maior treta do Universo.
Universo este que me foi dando sinais sobre o descalabro que iria ser a minha semana de férias. Senti-o no estômago, tentei falar sobre isso, ou melhor, perguntei na cara, pedi clareza. Em retorno, fui ludibriada.
A diferença desta vez? Os meus olhos abriram-se, deixei de arranjar desculpas. Ouvi claramente os violinos que me estavam a ser tocados; vi, claro como água, que há quem me tome por garantida, quem pense que conhece os meus padrões e os tente usar para seu proveito.
E repetiu-se, abertamente, o não ser bem recebida porque, com a minha objetividade e os meus objetivos de vida, ponho em causa vidas vividas no vazio, à superfície, como se de grandes seres iluminados se tratassem. Viver o padrão do "ciuminho" só porque não entro em vidinhas ocas é... "giro". Só deixa de ter piada quando uma pessoa já não tem 15 anos (especialmente quando as pessoas já estão mais na casa dos 40's do que outra coisa).
A diferença desta vez? Não me revolto, não tento ensinar aos outros o que já consigo ver. O meu "exercício" foi receber a informação, perceber o meu papel e o dos outros nestas relações quasi-abusivas, e decidir que não as vou alimentar mais.
Apresento-me num novo papel: amiga disposta à adaptação das mudanças da vida, que apresenta novos temas e formas de ligação, que dá conselhos, que ouve, mas que, rais me quilhem, já não vive os problemas dos outros. Que já não deixa de dormir a pensar na fome que o outro passa em casa, ou nas contas que não consegue pagar. Que já não anda triste, pelas ruas, porque sabe que a outra pessoa anda em baixo. Que salva vidas (literalmente) e abre as portas de casa, oferecendo-a aos outros, para no "retorno" ser ignorada quando de visita, minimizada no seu amor e nos seus esforços.
O meu padrão é mesmo preocupar-me, dar de mim, fazer tudo o que me é alcançável para ser o mais perfeita possível aos olhos dos outros, nem que isso signifique deixar de viver por mim, para viver o que os outros esperam - e isso é aplicável a qualquer uma das situações que partilhei hoje. Qualquer uma, MESMO.
Agora que olhei para mim e vi o meu padrão? Aceito-o, sabendo que nem sempre me faz bem. E se estas "férias" serviram para alguma coisa foi para o assumir, a mim e perante os outros, propor mudanças (de coração aberto) e, difícil, mas o mais relevante de tudo? Fechar a porta a quem não merece morar em mim.
A partir de "hoje", venham de visita, tomem um chá. Mas que fique bem claro: eu já não vos pertenço, eu sou de mim, já não sou o abrigo de todos e mais alguns.