Em baixo.
Desde 5ª feira que me fui abaixo, de novo.
Sim, viver assim é uma montanha-russa, das más. Daquelas que parece que estão a cair aos bocados, de velhas, com a tinta descascada, falta de óleo e que deviam estar fechadas ao público, por segurança.
Mas não, cá estou, a tentar ser funcional.
Aproveitei o feriado e fui caminhar, com o m-R, à beira-mar, pés descalços na areia, earthing, diz a A. - a levar com as ondas na saia e a fazer fisioterapia na área molhada - que ajuda para caraças nos movimentos. Gostei, senti-me a fazer algo diferente e por mim. Pelo caminho vimos um pedido de casamento, com direito a copinhos de champanhe e pegadela ao colo. O m-R lá foi, no fim diz que até gostou, mas eu notei uma centelha de frete naquilo tudo.
De 5ª feira em diante foi sempre a piorar.
Pensei culpar a TPM pelas enxaquecas e as dores lancinantes e o inchaço.
Mas a isto juntaram-se imbróglios na Loja do Cidadão e nas Carris. Horas perdidas, frustração, pessoas mal educadas.
E uma tarde passada a arrumar roupa e sapatos - e a encher sacos de coisas para deitar fora. Arrumar gavetas e caixas e "limpar-me" costuma funcionar, mas nem isso senti.
Obriguei-me a cuidar de mim. Da minha "beleza", na expectativa de me sentir melhor na minha pele. Cor nova de cabelo, que só sinto que me escurece, manicura e pedicure. The works.
Nada. Continuo a sentir-me balofa, inchada, feia, desinteressante.
Cheguei àquele ponto perigosamente triste de fugir do espelho, por muito que me digam que não parece nada, que continuo igual, que estou linda.
Não gosto de mim, não me vejo a voltar a gostar da minha imagem - dos poucos anos em que gostei de mim, enquanto mulher. Pronto, está dito.
Até pela vida a dois fiz esforços. Toca de me arrastar de casa, depois de pesquisar, por coisas giras e novas para apimentar a relação. Problema: esta que vos escreve sente-se um real monte de ****nha.
Tenho trabalhado a minha perceção e a minha exigência quanto ao mundo externo, a quem me rodeia. O aceitar.
Conto até 10, meço as palavras, não digo a 1ª coisa que me vem à mente. Reformulo, pensando no que os outros possam entender das minhas palavras... penso "não quero magoar, não quero comandar, nem mandar nos outros, se calhar, posso dizer abcd, em vez de xpto".
Tenho lutado para ir pondo as minhas vontades um bocadinho mais acima na escala de prioridades. Mas continuo a não me sentir "no agora". Continua a ser a pessoa que não compra aquela caixa de chá biológico com super bom aspeto no Celeiro, porque é bastante mais caro do que o normal e porque preciso do dinheiro porque o condomínio pintou o prédio e nós que mal chegamos, temos que pagar.
Não compro uma peça de roupa porque nem me quero ver ao espelho da loja.
Não compro sapatos porque a minha deficiência os vai estragar.
Acabo a comprar miminhos para o m-R, para quando ele chegar a casa sorrir. Ele sempre ele. E se ao menos fosse daquela "co-dependência" fofa, tipo Lily e Marshall de HIMYM... mas nem é. É pensar nel, para ao menos pensar em alguém, já que não tenho tomates para pensar em mim.
Aceno ao que as pessoas acham que me faz feliz, ponho um sorriso na cara. E não me sinto feliz. Nem no "agora". Definitivamente, não me sei sentir feliz. Alguém me sabe ensinar? Há comprimidos para isso? Já tomo 6 comprimidos por dia, fora as gotas. Mais esse não me custa nada, se tiver resultados...
Hoje as coisas conseguiram "melhorar". Começo o dia a discutir com o m-R, claro que devido à sua preciosa banda.
Banda que está a crescer para além de si mesma, nos outros projetos dos elementos. Menos do m-R que continua fully commited a eles. E depois diz que não tenta mais nada porque a banda "já" lhe tira tempo que deveria ser meu, nosso, a dois...
Estou, desde a última sessão, numa fase de lhe dar espaço quando o assunto é a banda. Esse conjunto de gente merdosa que passou 2 anos e tal a humilhar-me e diminuir-me porque não sou cool (leia-se infantil) como eles. Não opino, não aponto o dedo, deixo-o tirar as suas conclusões e desabafar, aperceber-se do que quer que se passe entre eles os 4. Afinal de contas, muitos dos problemas nasceram de eu ter sido apresentada a uma dinâmica de grupo, que nunca me aceitou. Assim, tenho feito por preservar o meu espaço, sem, resultado dos nervos, acabar a atacar o m-R ou a fazer de mãezinha dele.
Para hoje, como acompanhamento de pequeno-almoço ouvi: "não interessa que vás lá para estar num canto sozinha. Já é o que fazes, de qualquer maneira. O que interessa é que toco no Halloween e quero-te lá. Pode ser que te divirtas. E pronto, se te sentes gorda e feia, não te mascares, mas eu gostava muito que fosses. Afinal de contas, és minha namorada e é importante para mim".
Se já mandou sms a pedir desculpa? Já, um testamento. Serve de alguma coisa? Não, Apetece-me manda-lo pastar, na mesma.
Eu devo ser uma real merda a fazer terapia. Luto que luto para me preservar. Mas acabo atacada e tudo me deita abaixo.
Dou por mim com saudades de ser subject do interesse de alguém, de ver alguém, um homem, verdadeiramente encantado por mim. Assim, à laia de paixonite de quando tinha 20 anos sabem? A ver se isso me acordava?
Mas não. Sinto-me uma sombra, que quando passa nas multidões do metro, pede para ninguém reparar nela. E se assim é, é claro que vai dar asneira, não é?
Sinto que voltei aos dias idos em que andava na rua, de cabeça baixa, a olhar para o chão. E nem a minha casa, nem o meu companheiro conseguem ser um porto seguro. Parece que o que sofro e o que me esforço não é visível para ninguém.
Estou num rico caminho...