Do que se passa cá dentro...
Primeiro quer confessar-vos: pensei muito antes de começar a escrever este texto. E mesmo enquanto o escrevo, vou parado, para medir bem as palavras.
A verdade é que, talvez por pressão "dos pares", deixei de usar tanto o blogue como cantinho dos desabafos pessoais, verdadeiramente importantes.
Isso e o saber que o ex-muito bom lá do Deserto, jamais, descobriu este blogue e sinto o medo de me expor "demais".
Ou seja, no último ano - paragem incluída - deixei-me levar pela ideia de que ter um blogue é só mostrar o lado bom da vida, ou mesmo assim, pintar de cor de rosa, para não parecer tão mal, quando as coisas não estão bem.
Sei que vos pareço só uma rapariga que volta e meia vai abaixo, que tem uma nuvem negra em cima dela e uns azares. Acho que até eu quis acreditar que era só isso. Mas esta dor corre bem mais fundo, em mim.
Ontem tive uma pequena conversa com a My Cristina. Pequena, porque assumo, que preferi fugir a desabafar.
Percebo que esta forma de vida de esconder e fugir já é uma Arte, quando até a ela a consigo enganar.
Dizia ela que eu pareço "muito para cima".
Não podia estar mais longe da verdade.
Estou em baixo, para baixo. Confusa, cansada e a sentir-me anulada e invisível.
Vou (re)começar pelo início.
Ontem aceitei baixar o véu durante uns 10 minutos. Não mais. Mal consegui recolhi-me, voltei a esconder-me. Pela dor que me causa, pela situações profundas que deixei passar e agora não sei resolver, nem sei como as assumir a alguém.
Desde que voltei a falar com a A. - para marcar a consulta para a My Cristina - que voltei a olhar para dentro de mim, como fazia quando ia às consultas.
De repente, qual soco no estômago, apercebi-me de um cofim de coisas, nenhuma delas boa:
- para evitar dramas e conflitos, anulei-me, no último ano. E não me ajudou em nada, o sentimento dominante quanto a certas pessoas é de uma raiva enorme. Deixei de conseguir ser eu, para nada
- sinto as atitudes dos outros, só esperando maldade; como já não o fazia desde a adolecência
- com medo de ter que ver pessoas e socializar, saio de casa o mínimo e minimizei contactos com amigos de quem tenho saudades. Ao ponto de saber que os vou perdendo. O que, mais uma vez, causa dor
- sinto-me má amiga porque fui pintando a imagem de que está tudo bem, e fora algumas pessoas que me ligam, nem coragem tenho de ligar ou desabafar, com amigos que finalmente parecem ter o sol a brilhar um bocadinho mais nas suas vidas
- a minha imagem pessoal e auto-estima estão pelas ruas da amargura: sinto-me gorda, feia, desinteressante. Longe do sexy e poderosa, que volta e meia fui passando aqui. E se fosse uma pessoa normal, isso bastaria para me motivar a mudar, certo? Mas não, cada dia me afundo mais e mais no sofá, no ciclo de me sentir mal e começar a odiar-me
- tenho fugido do espelho. Ganhei asco ao espelho. Já não me revejo em 80% do que visto/uso. E o não ter dinheiro ajuda-me a não enfrentar as lojas. Ajuda-me a adiar o mudar-me a mim mesma
- eu causo a maior parte do mal e da dor a mim mesma
- tenho uma namorado-companheiro que me ama, mas não me "vê" - e eu que cada dia me sinto mais invisível
- não consigo comunicar com o m-R. Sempre foi um baluarte da nossa relação, a nossa capacidade de falar um com o outro. Pois bem, também isso anulei. Falo, converso, para tapar os silêncios, mas deixei de comunicar com ele. E ele parece ter aceite isso... não me lembro da última vez que ele tenha mostrado interesse/espaço para "querer saber de mim"
- saboto-me. E não sei como parar esta atitude auto-destrutiva
- costumava orgulhar-me de poder estar no fundo mas conseguir sempre, sempre, estender à mão a quem rodeia e precisa de mim. Ontem ao analisar-me, percebi que, no último ano, nem isso fiz. Sou simpática para quem gosto, tento continuar a ser um doce, mas a frustração, a confusão, o sentimento de perdida tomaram conta de mim, Sou só um sorriso
- é isso. Sinto-me um sorriso falso e vazio
- toda a gente que me rodeia me diz que, o pouco que desabafo, é normal de sentir, faz parte do período de habituação a Lisboa. A My Cristina, ontem, disse-me mais: que eu me proponho a mudanças radicais, que pesam, que custam. E que o meu azar labural não ajuda em nada. Que tenho que ter calma, que os períodos de habituação, duram, pelo menos, 3 anos - isto palavras de uma mulher que ficou orfã há menos de um ano. Percebem porque a amo?
- já não odeio a cidade pelo que ela me "tirou". O meu apagar, o meu comodismo até essa "raiva" levou. Mas continuo a sentir-me uma expatriada. Sem "casa", sem raízes. Não reconheço o que me rodeia. Chego a ter medo de sair de casa
- medo. Medo é a palavra central
- eu, que acahava que tinha aprendido a cativar as pessoas com a minha personalidade. Eu que tinha aprendido a gostar de ser o centro das atenções. Fecho-me, quero passar despercebida. Mas odeio sentir-me invisível. Eu que vou aos eventos culturais por obrigação. A contar os minutos para voltar para casa
- sinto-me incompreendida. E à minha falta de motivação, junta-se o ninguém me motivar. Eu sei, se supostamente estivesse mentalmente saudável, não precisaria que me motivassem. Mas caraças, preciso! Preciso e não tenho, nem em casa
- ressinto-me pelos avanços dos outros. Mesmo quando fui eu a ajudá-los a avançar. Que merda de pessoa sou eu?
- as dores da perda, do desemprego, da humilhação cairam todas sobre mim, no último ano, e a minha resposta foi voltar as costas, deixar de reagir. Ao ponto de encolher os ombros a tudo o que a My Cristina me listou ontem, que tenho, como sendo de valor
- eu não me sinto de valor. Eu não sei ser de valor. E contudo, vivo com a sensação de que o mundo me deve isso, esse ser de valor.
Não sei se ainda está alguém desse lado, depois de tantas linhas.
Não sei se querem saber dos meus desabafos.
Não sei até que ponto me sinto mais leve.
Mas lembro-me das palavras da My Cristina:
E aquilo que sentires que tens que fazer, para te sentires bem, não adies...
Este foi o meu 1º passo "público", visível, para ver se ajo.
Mas ao menos reuni tudo num texto, como já não era capaz há muito, muito tempo.