Do que eu Já fiz
Cantam os outros sobre as histórias do que não fizeram.
Eu admito que... durante, especialmente, 23 anos da minha vida não fiz muita coisa. Fiz o que achei que ia deixar os meus pais felizes. Cumpri as metas "esperadas" tão bem quanto consegui (melhor do que muitos esperavam).
O medo e a vergonha de "ser como sou" fizeram-me retrair em muita coisa. Esconder-me, fugir. O medo levou-me ao "Psicopata, muito bom, lá do Deserto, jamais". O medo de ficar sozinha fez-me acreditar nas palavras venenosas dele e aceitar ser ainda mais diminuida.
Quando me libertei dele e entrei em terapia lembro-me de ter pensado "agora vou fazer mais coisas que queira, mais coisas "daquelas" que passei estes anos todos a dizer que não conseguia ou que o meu corpo não podia". Que se lixe, as pessoas já olham para mim na rua, a imaginar que raio terei eu, é só mais "uma coisa".
Passei a rir-me das quedas dadas em público. A agradecer com menos vergonha quando um estranho se oferece para me ajudar. Aprendi até a pedir ajuda! Aprendi a forçar limites, a tentar fazer as coisas que achava que não conseguia. Ao menos, se não conseguir, sei!
E quando dei por mim? Já fiz 4 sessões fotográficas. Já tive um colega-colorido. Já passei a dizer mais o que sinto e penso. Mudei-me e vivo sozinha. Passei a sair sozinha para tudo o que me apeteça - desde as compras do mês, à praia, ao parque. Entrei no e estou a acabar o Mestrado. Vou para a 4ª e 5ª tatuagens. Tenho 2 gatos. Já voltei a escrever num blog. Já caminhei 15 km num dia. Já fiz "escalada". Já fiz canoagem. Já voltei a cantar. Estou a aprender a tocar um instrumento. Já acampei. Já descobri o meu estilo pessoal. Já comprei em lojas vintage e tenho peças de pessoas famosas no meu armário. Já voltei ao desporto. Já voltei a dar uso à elíptica lá em casa. Já ultrapassei os 12 tipos de chá lá em casa. Já voltei à neve. Visitei mais Museus e Castelos. Já me perco menos quando vou sozinha a cidades novas. Já sorrio mais. Já olho menos para o chão quando ando na rua. Já voltei a usar sapatilhas para vir trabalhar. Já trabalhei com pessoas que agora são famosas. Já deixei de ter medo de números anónimos. Já aprendi a partilhar a minha casa com "estranhos". Já estaciono na garagem, mesmo sendo no -2 com um ângulo difícil. Já conduzo o carro a 50/50.
Posso às vezes não fazer exactamente o que os meus pais esperam - e deixo a minha mãe de coração nas mãos. Pode não parecer nada de especial. Mas se, aos 23 anos, o meu Eu-Futuro viesse ter comigo e me dissesse: m-M ainda tens tanto para fazer e vais conseguir, com mais ou menos trambolhões... eu ia pensar que o meu Eu-Futuro era mas é uma ganda alcoólica!