Miki
Mais logo, quando estiver escuro - porque está igualmente frio... - fará 10 anos que partiste.
Eu lembro-me, tão (demasiado?) bem. Enquanto eu estudava para TCS na cozinha, a minha família ouvia o jogo enquanto conversava com amigos.
De repente... silêncio. O relato da rádio (porque o Vitória de Guimarães-Benfica só dava na Sport Tv) ficou frenético e lento ao mesmo tempo. A RTP interrompeu o qualquer filme de Domingo à noite e foi em directo de última hora para o relvado. Relvado em que o Miki jazia inerte, rodeado por colegas e médicos.
Percebi que tinhas partido cerca de duas horas antes de o oficializarem, ao ver um médico em desespero soquear o teu peito. Ouvi o estádio respirar de alívio quando os milhares de pessoas que lá estavam acharam que Miki se tinha mexido. Algo em mim me dizia que não voltaria a correr. A dar tudo pela equipa, a sorrir humildemente (talvez ciente dos 600 mil Euros que tinha custado aos cofres do SLB semanas antes?).
Tinha visto o Miki meses antes num jogo particular, daqueles jogos de Agosto, para "emigras", com o meu pai. Lembro-me de pensar: "Mais do que giro, este gajo foi um grande trunfo que tiramos ao FêCêPê".
Ficou para sempre na minha memória como o rapaz alto e loiro que corria muito, sorria a toda a gente e não falava tanto quanto isso. As ironias da vida apresentaram-me, anos mais tarde, uma amiga do Miki, que me contou como o Petit se quis revoltar contra o relvado, como o Miguel chorou meses a fio, como o Tiago nunca mais entrou em campo com a mesma vontade.
A queda inesperada após o cartão foi o presente de aniversário envenenado para Eusébio nesse ano. A noite caiu e a madrugada trouxe chuva diluvial que não parou durante dias.
Há quase 2 anos, sem esperar, sem saber o que era, fui atraída para a multidão que circunda o teu memorial em cada jogo na Catedral. O equipamento rasgado, as chuteiras emprestadas pelo Nuno apenas para aquele jogo, o busto em bronze, os muitos cachecois, o poema em Hungaro... e aí sim. Anos depois chorei a tua morte, na nossa Catedral, como não o consegui fazer aos 18 anos.
A verdade é que aquele choro foi uma catarse e um olá. Um olá, não me esqueço de ti Miki. Por mais anos que passem.