10 anos
Uma década. A vida inteira do nosso menino. Sem ti.
O ter sido "Senhora Dr.ª, Engª., Arqª., Advogada" sem ti. 10 anos em que o espaço em branco, na fita azul escura é teu, teu e de mais ninguém. 10 anos em que não te vejo sentado, à minha espera, a ler o jornal, a fumar, com o café e o meio-bagaço. 10 anos em que tomei o teu lugar na mesa e a sopa me passou a saber melhor se comida da tigela, como tu fazias.
10 anos em que o SLB voltou a ser campeão e o teu Supporting não. 10 anos em que os "Rapazes" entraram na minha vida e tu, lá de cima, com a ajuda da Bivó, afastaste os maus. 10 anos a sentir, nos ossos, que não fiquei sem ti, que estás comigo, sempre que eu preciso e a minha alma te chama - já tivemos provas disso, não é?
10 anos em que o teu sorriso e as tuas palavras (me) ecoam de tal forma que a "única saudade" é a de não ver os teus olhos ou sentir a tua barba picar quando me beijavas a testa, porque cresceu. 10 anos em que deixei de conseguir passear no nosso jardim. 10 anos em que me pergunto, quase todos os dias, se estás orgulhoso de mim.
10 anos em que penso "se fiz esta asneira... o avó-anjo compreende, ele fez pior" e sorrio porque sei que sorris lá em cima, enquanto me chamas "Costas de Sargento". 10 anos em que quebrei o zelo que te tinha e me tornei eu mesma, uma fumadora. [Mas pronto, já cortei, bastante! Já me voltei a comportar.
10 anos em que acendo velas, falo contigo, te faço festinhas na fotografia, te rezo a "correr", te levei o m-R a conhecer.
10 anos a ter a lágrima no canto do olho só de pensar em ti. 10 anos a saber mais de ti. 10 anos a pedir que voltes, desde o 1º baque do 1º berro de saudades da mãe. 10 anos a tentar perdoar à "Senhora". 10 anos a perguntar-me como a pudeste amar tanto? E depois lembro-me: se não a amasses, não tínhamos a mãe. E não és tu que me amas, desde o 1º momento, há 28 anos?
10 anos a saber que nos proteges. 10 anos a saber que lutas, aí de cima, sempre, para que não levem a mãe, cedo demais.
10 anos a perceber melhor que é de ti que vem a minha veia sonhadora, que quase que dá passos sem rede. 10 anos do piercing na orelha direita. 10 anos da camisola com a bandeira da Inglaterra (que nunca mais usei) que tinha vestida quando soube que já não estavas comigo/connosco, do outro lado da rua da Escola. 10 anos sem conseguir comer amendoins torrados, porque é o último sabor que associo à tua partida.
10 anos a saber que o meiinho da torrada sabe a um Amor Maior, como tu me ensinaste. 10 anos a dar passos e a olhar para o céu. 10 anos a aprender que a dor e a saudade se sentem no corpo e não nas roupas ou nas cores que o cobrem, para os outros verem. O ter-te chorado como ninguém até hoje. O saber-te sempre em mim, na mãe, no nosso menino, na A.
10 anos a sentir-te nas palavras do Ary. 10 anos de Amor sem presença, mas sempre presente. 10 anos sem ti.