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Os Contos da menina-Mulher

Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto. Estes são os meus pontos sobre saúde, culinária e lifestyle. Aqui toda eu sou vírgulas, reticências e, no extremo, pontos de exclamação ou mesmo um ponto final!

Ter | 19.03.13

Ter e não ter...

Sei lá o que se passa cá dentro. Mas é que não sei mesmo…

Olho à volta e, neste momento, tenho tudo o que preciso (e pedi durante tanto tempo), e não sou ingrata, não peço mais.

Mas há tanto tempo que não sentia ter tudo tão arrumado, que dou por mim com medo.

Tenho emprego, salário certo, numa empresa que muito se mexe, e pode não estar com o poder dos anos passados (que os colegas falam) mas que está bem e onde eu luto, todos os dias, para que, pelo menos, da minha parte não falhe;

Tenho uma família que me ama. Temos que lutar muito contra o bicho mau, que todos os meses nos prega sustos e que alterou completamente a nossa vida, de há 3 anos para cá. Mas vejo o meu sobrinho crescer, venho o medo-amor nos olhos da minha mãe, vejo o orgulho nos olhos do meu pai, vejo a cumplicidade muito nossa, da minha irmã e do meu cunhado;

Tenho o meu menino-Rapaz, sorriso que é beijo ao longe, tentativa de “cá vai disto”, um “é capaz de não dar em nada” que me tem dado tanto nos últimos meses. Surpresas, conversas, ajuda, partilhas, planos, piadas, gostos só nossos, descoberta pessoal, viagens e pedidos ao Céu, que sem data marcada ou expectativa, se vão sucedendo;

Tenho o meu Mestrado (sim, sou uma "antiga" para quem o Grau académico significa muito e que sonha ver o seu esforço reconhecido), que me mostra todos os dias que luto e tenho energia e capacidade e réstias de sabedoria. Que foi uma luta, é um orgulho e me fez sentir nas nuvens quando as notas saíram. É desafio a que muitos torceram o nariz mas que me trouxe a novos caminhos de que gosto tanto.

Tenho a minha “Cristina” salvadora, tão Eu, mais de metade de mim; para sempre detentora de um anexo, um quarto, uma casa, uma “cela almofadada” no meu coração, na minha mente, no meu sorriso, na vida que ainda vivo. Tenho a minha S., lutadora calma, que me relembra que a sanidade é a medida de cada um e sorri com o seu sorriso compreensivo a todos os passos que dou;

Tenho a minha roommie, que não podia ter pedido “desconhecida” melhor, para partilhar a casa, quando os problemas “rebentaram”;

Tenho os meus quadrixanos, lindos! Os meus Ying-Yang, tão diferentes, tão meus, cada um com sua história e personalidade. Que reforçam a minha relação com o menino-Rapaz, que abriram a porta para novos conhecidos e novos hábitos de vida.

Mas também tenho medo. Medo de ter a vida tão nas gavetas. Sinto-me cansada, sem a capacidade do semestre anterior, já vejo as notas a descer e já me recrimino. Já vejo os tratamentos da minha mãe a regressar, os efeitos secundários; a obrigação de eu andar em tratamentos e exames e análises porque a genética é lixada. Vejo os meses passar sem saber quando, como, onde vou para ficar mais perto do menino-Rapaz. Vejo-o ter vivido tanto e eu tão pouco, porque me escondi anos enquanto ele foi o “Príncipe” da sua terra. cSei que nos encontramos no ponto de equilíbrio onde estamos agora. Que foi preciso ele acalmar e eu aprender depressa, para nos reconhecermos. Mas custa-me vê-lo "recioso-saudosista" porque o passado foi "assim". O meu passado quase me levava para a toca do monstro que "desfaz" mulheres, e estou cá, sobrevivi...

Tenho que ser o apoio, o carinho, a lembrança, tenho que agradecer o bom salário, pagar as contas, as propinas, os acidentes do dia-a-dia (a isto chama-se ser adulta) e ainda ficar a pensar em todas as palavras que não me dizes, no passado que vou descobrindo, nos planos que te vejo fazer (e conheço-te, só os fazes porque me queres mesmo), na vontade de nos aproximarmos, de crescermos, porque há tantos motivos. O abraço “distante” quando (e se) me mostro mais frágil. Mas para ti eu sou a forte, a que tu não imaginavas que ainda sofresse, a que tu pensavas que já tinha resolvido tudo. E ajudas-me à tua maneira tosca, de “homem”. Nem imaginas a falta que me fazes, todos os dias, ao chegar ao quarto, em que já nem ligo a tv e me obrigo a perder em livros. A esta "hora" já não devias pressentir, como eu te leio a ti?

Neste momento vivo de medos: medo dos tratamentos, que (re)comece a espiral, medo de me defraudar, medo de não conseguir, medo de ficar presa ao mesmo lugar, medo de ter o menino-Rapaz, medo de me sentir tão feliz (às vezes) ao acordar, medo de fazer planos porque existimos, porque me incluem nas datas, medo que o calendário me corte os planos, medo dos exames e das análises, medo porque já não tenho o apoio da terapeuta, medo orque já me dei às pessoas erradas, medo de continuar com as palavras presas na garganta, medo que me descubram, medo de voltar a não aguentar. Medo de não saber ser arrumadinha da "cabeça".

E já não tenho 23 anos e um monte de desculpas, nem a minha “Cristina” para me salvar. Tenho tudo o que listei e medo.

Ter | 19.03.13

A prova de que eu sei contar

Ou pelo menos sei os numbaros: mais de 200 visitas em menos dum mês :D

Obrigada minha gente, é um gosto saber que me lêem - ou então que vêm cá parar por engano... mas isso agora não interessa nada.

´Cá beijinho repenicado!